quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Origens da Doença



            Estou doente. Aqui há o esqueleto, o corpo que jaz e traz lembranças de dias intensos. O descamamento da alma por conta de excessos em prol de algo ainda há ser descoberto. A fome de sangue nas veias, de neurônios na cabeça e de luz na alma.
            Sexta como de costume acaba-se a escola meio dia e quarenta e cinco, não tenho dinheiro para comer na padaria ou no caiçaras, porém vejo Filipo o gracioso e ele me dá a ideia de comprar uma lasanha semi-pronta. Vamos a sua casa, conosco estavam Zé o perdigoto e Conan o lascivo. Fumamos e conversamos, ouvimos uma música, cousa normal, coisa besta, coisa bacana. Percebendo de antemão que não daria tempo para preparar minha lasanha na casa de Filipo pois a comida de outros já estavam na frente da fila do micro, me ponho a fronteguarda e já vou a escola para aquecer minha lasanha e não me atrasar para o filme. Me lembro como se fosse hoje daquela andada espetacular, transformisa, inigualável e irrepreensivel.  Alva, tigresa dinamarquesa, gostosa do cabelo leonino e dos olhos de âmbar madrilúdicos se achega a sala de exibição com Julia e Bia, agi de forma líquida, agi de forma sincera e desinibida sem amarras, tão logo a vi soltei um sonoro "uooou",  isn't that, hmmmm, Alva!", she comes to me, we have this litle talk, acompanied by laughters of Alice, Bia and Julia, she grabs my hair in, I must say, sexy way, and said that I cuted my hair, that I was prettier, of course I said that her hair was espectacular too, I love blond hair. Esqueci de mencionar a parte que dizia que sim, antigamente tinha um cabelo maior, que parecia a monkey. Saí a retaguarda para pegar minha lasanha, neste dia, por uma conjunção de fatores como autoconfiança elevada e chapacrazy estava muito sociável, tudo dava certo em relação as outras pessoas.
            Parentêses a algo que esqueci, esses dias de pura vida e loucura começaram na quinta, e não na sexta. Depois de dias na expectativa, de tentativas, lá me vou ao méier ver Tame Impala no imperator. Mas antes tenho que encontrar Buba e Stein na Puc, Buba e seu jeito juvenil e cinematográfico, Stein e sua pose de malandro viciado. Encontro-los na rua das vilas, cheia, um bacanal contagiante begesiano. Não compro nada, mas vivo tomando goles de cervejas alheias, olho nos olhos das pessoas do lugar. A Puc é uma festa, la perfección seria estudar na ufrj e frequentar a puc. Estamos de boa, estamos tranquilo, sabendo eu que o show era as 21, sabendo eles que o show era as 22. As 20 15 pergunto se não estamos atrasados? SIM, o show é as 21! No méier, estamos na gávea. Fudeu. Ahahahaha. Ah a sensação inebriante do desespero sutil, da revolta tímida, a correria semi-alterada até a porra da bartolomeu mitre pra pegar a porra do único ônibus que vai pra porra do méier. Demora, risos, angústia e chega, passa, deslumbramos a entrada na passarela deslumbrante que é a rua as 20 30 da noite no ano de 2012, o 476 chega! O simples e singelo Méier - Leblon. Curto e preciso em sua perfeição.  Perguntado aqui e acolá descobrimos que devemos saltar no penúltimo ponto antes do ponto final. Vemos o ônibus inchar e desinchar, descubro da penumbra da minha mente a zona norte, como é grande! Como nossa zona de conforto é pequena! Aquilo é Rio! Aquilo é Brasil, a Zona Norte vibra! Aquelas pessoas clamam por uma vida que não tem!  Sentado sozinho muitos pensamentos me povoam de forma nomadesca.  Principalmente relacionamentos, sexo, autoconfiança num crescente pulsar. Fácil fácil, nos achamos lá, e rapidamente estamos no Imperator.  Que casa bonita, moderna, artística, que pessoas interessantes, que garotas psicodelicamente promíscuas, que burrice a minha! Esquecer de verificar a faixa etária e lá descobrir que teoricamente não posso entrar no show. Momentos tensos, até angustiantes. Consigo! Entro e exulto em felicidade genuína, um tesão pela vida e pela música, "tudo nosso!". A noite se completa em duas coisas principais, o show em si, magnífico, operesco, ultrajantemente danço ao som de todas as sonoridades possíveis, aperto um beck em pé, fumo, me livro, me solto e voo. Dora, que surpresa agradável encontrá-la, como estava linda, como estava Dora. E conseguiu conquistar-me, me enlaçou quando graciosamente vira a cabeça lá na frente, como num  passe de mágica seus olhos me encontram e ela me manda um beijo de despedida atordoante e escandaloso. Puta que pariu, tocaste-me garota, tocaste-me. Ainda viriam batatas fritas, semi-desespero risonho a não saber como voltar pra casa, e uma ligação salvadora a Peu, que por sorte estava ali com o pai, de carro, e nos deu uma carona amiga e providencial.
            Voltamos a sexta, voltemos a lasanha, voltemos a Mephisto. Como, mas não tudo, pois o filme estava prestes a começar, como o resto já na sala de exibition, sento na frente, ouço o papo sempre interessante de João Guilherme e começa o filme, e acaba o filme.
Ufa. Duas horas e quarenta preso a tela, finalmente olho pra trás, não há mais Alva, mas há algo entranhado em mim neste filme. Algo a ver com atuação, com revolução, com dança, com mulheres negras atraentes, com brilhantismo, com bissexualismo, com decadência, vitória e derrota. Uma película extraordinária, que te deixa pasmo por um tempo. Saímos, saímos e descemos rumo ao bg, ando acompanhado por pessoas que gosto. Quem nos visse de longe veria  uma garota alta, de pele morena e lindo rosto, acompanhada por uma aparente amiga de rosto deformado, um garoto de óculos, bonito mas meio pertubado a dialogar com um viking indie e um menino do rio numa bicicleta, atrás ainda haveria uma garota e seus peitos, e seus cabelos loiros e sua carinha angelical, outra de lindos cabelos morenos num bonito rosto em corpo feio, um pseudo-revolucionário e sua namorada sincera. Ao menos eu estava tocado pelo filme, portanto levo a conversa a assuntos heterodoxos porém batidos, onde estamos? Porque estamos?  Pra onde vamos? Nessas divagações infundadas acerda do destino da humanidade me deparo com a genial resposta: "Pro bg cara!",  "Não a gente! A humanidade!", risos e mais risos. Como sempre estava broke, no money no fun, no baixo empoleiramo-nos no canteiro, cada qual com seu copo e conversamos, estava me sentindo muito livre, falava o que pensava quando quisesse, mas ao mesmo tempo não queria ficar preso ali, andei com uma bicicleta sem freio pelas redondezas, visitei uma livraria linda e chei de cds legais, por grata coincidência encontro uma garota que havia visto no dia anterior no show do tame impala. Pessoas chegam e se aconchegam, cada um com seu cada qual. Pessoas desachegam-se ao ir embora, decido ir pra casa, decidimos ir pra casa.
            Ele, depois de algumas conversas, toques e gestos, passa a mão em seu braço para se despedir, com dois beijos e um abraço, forte e tenro. Começam a andar juntos e conversar sobre coisas banais que atualmente ele nem se lembra, descobrem que tomarão caminhos separados, se despedem novamente, com a mesma vontade e ternura. Porém ele vê que pode tomar o outro caminho por outro jeito e consegue burlar o tempo e roubá-la por mais ínfimos momentos, até que chega ela, a temível e esperada terceira despedida, que se concretiza em meio a pensamentos e hipóteses do que poderia ser feito para prolongar aquela sensação. Mas agora ele e ela que andam sozinhos em direção a seus lares.
           Tristemente, sábado começa cedo o dia. Sete e meia da manhã lá estava eu fazendo o tal do famigerado simulado enem, que ocupará nossa manhã inteira e minha mente por completo por um tempo, pois minha capacidade de concentração não é algo digno de orgulho. Saio diversas vezes no meio da prova, pra andar, pra olhar as árvores, sentir meus pés no chão, me distrair com minhas sombras e com minha imagem no espelho, de volta a prova, esperneio, grito, chuto, tenho convulsões, mato três pessoas três vezes e me mato duas, bato os pés no chão, choro e canto, tudo sem mover um músculo. Quando finalmente me liberto volto-me pra dentro ao me engendrar em sonhos e delírios musicais pelo Jardim Pernambuco, músicas ditam o ritmo da caminhada, uma caminhada instrospectiva cercada de mansões e cones, e gramas e arquiteturas e seguranças.
            Aquela sensação, sábado, um dia, uma tábula rasa prestes a ser preenchida de emoções, desilusões, ou nada. E o tempo passa, e você tem que se decidir, o que, aonde, com quem. E essa facilidade tecnológica acaba por vezes a nos atrapalhar pois perde-se a importância da palavra, todo mundo é alcançável. Aproveito a carona dela e vou ao encontro da tribo na casa do Antônio. A caminho de lá passa por mim um ser chamado Giulliano, com sua bicicleta a grande velocidade ainda tem destreza de me mandar o dedo do meio. Na portaria recebo a notícia de que não ninguém em casa, haviam acabado de sair. Descubro-lhes na domino's fazendo o que sabem fazer melhor depois de fumar, matar uma larica. Oh símios que em sua individualidade são grandes, são honrosos, mas em grupo são o que há de ordinário no ser humano, claro que podiam ser piores, mas é meu dever de jovem reclamar de meu presente habitual para depois me ver sentindo saudades. Fazia um tempinho que não tomava parte dessa cerimônia, desse encontro entre amigos que esconde simbolicamente algo a mais, um vínculo, uma competição, um líder, um fraco, alguém que não fala nada mas não precisa falar nada. Os olhos estava de certa forma em mim, havia uma curiosidade no ar, algo que poderia ser ofensivo por parte deles, ou o mais engraçado, insegurança do grupo relativo a alguém que não sabem se compartilha desse estrito laço invisível, eu. Ali dentro com certeza o mais esquisito e difícil de lidar carrega o nome de Antônio, uma pessoa carinhosa, porém agressiva, mimada, sem educação e sem limites. Estou manejando o grupo, faz tempo que não conversamos, conto histórias, faço perguntas distintas a cada um, reajo bem às provocações e na saída da Dominos vejo o que somos, um grupo de crianças, um grupo de crianças amigas já enfrentando a vida, crianças as vezes com medo, umas mais lúcidas, outras mais livres, outras mais reprimidas. Mas no fundo todo mundo gosta-se, tenho essa reflexão ao estar gargalhando no meio da rua junto com todo mundo ao ver uma criança gordinha cair de seu skate.
            Esses momentos levam mais a reflexão do que a narrativa constante com tom literário que busco, então vamos logo dizendo que voltamos a casa de Antônio, ficamos  pouco tempo, logo em seguida deixamos Juca e Bida pelo caminho e fomos a aabb jogar futebol, no caminho encontramos Olavo, este já veio com uma história envolvendo a prisão deste num banco por meia hora, até alguém perder a cabeça e quebrar a porra da porta de vidro, ahahaha, isso aí, quebraremos todas as portas de vidro de banco que encontrarmos! Nossa como esta entrada está moderna! Foi o que disse a recepcionista do clube, é tão bom perceber como você consegue tocar as mulheres somente sendo terno, gentil e confiante no jeito de falar, ser sedutor é uma arte, uma arte a ser moldada. O futebol rolou como o quê? Como a chuva, como algo que sempre acontece, algo habitual como todo dia ver um carro, todo dia eu vejo a porra de um carro na minha frente em alguma hora do dia.  Mas veja bem, eu gosto de chuva e de alguns carros.
            Chego em casa, já é tarde, acho que batiam umas 20 30. Soube de uma festa em laranjeiras, porém não fui convidado, pas de problem, liga-se, digita-se e consegue-se. Arrumei-me, jantei-me e fui para a casa do Bê baitola. Estava com uma camisa que costumo dormir, a parte irônica consiste no fato desta camisa ser uma fina e bonita camisa lacoste, o estranho seria dormir com ela, porém no caso deste garoto burguês aparentemente antimaterialista que lhes fala o estranho é o oposto. No Bê, encontro Jp, Pedro e Isidoro. Gente boa, gente fina, engraçada, taí uma tribo mais harmônica, porém em seus meandros deve haver muitos defeitos como tudo na vida. Fumo, bebo uma cachacinha e me vou, eles vão comer em algum canto, Jp me acompanha e vamos nós a laranjeiras. Gratas conversa tenho com Jp! Sobre mulheres, poesia, dança, música, negros, ônibus, bares, assentos de ônibus, um bom amigo! Chegando no laranjal o próximo ponto é nos acharmos, acharmos a tal rua. Pergunto ao maluco do posto e rapidamente subimos e chegamos a um aparentemente pequeno apartamento, lotado, escuro, uma judaiada só. Músicas de sucesso, só os hits, muita mulher e muito judeu, não que eu seja antisemita ou algo assim, mas é fácil de perceber. Caipirinha de vários tipos, tudo de graça, várias garotas da escola, Juliana sempre me chamando pela buceta, Carolina pelo peito, ahahaha. Como é patético rir em textos, parece que estou travando um diálogo infanto-juvenil, quem ri é o leitor não tu ó imbecil idiota. Danço, olho o ambiente, encontro o Vitor Guará, grande e nostálgico amigo, ele e seus amigos e amigas dançam tudo quanto é sucesso, dançam até se acabar, chego em uma de suas amigas, uma judia corpulenta, dona de um corpo em que eu estava desejoso de passar as mãos por todas as profundidade e comprimentos possíveis e inimagináveis. Acho engraçado o repreensível interesse  em mim gerado por um dos amigos de Guará, que dançava como uma garota no cio. Mais tarde chegam os mlqs, Joaquim, Felipe, Ibrahim e Giulliano. Passa-se o tempo, o tempo vai passando, já falei que o tempo passou? Fumamos um gracioso beck no banheiro, um momento de pura graça e diversão, eu, Carolina, Joaquim Ibrahim. Mexo muito com a carol, essa garota ainda vai, ainda vai. Depois me vejo dançando, me vejo beijando, me vejo asediando Luiza. Bastou uma dança, essa garota me queria há um tempo. Acho-a um pouco feia, mas foda-se, ela tem uma bela bunda e não para de me beijar. Ficamos na parede, ficamos na outra parede, ficamos no corredor, sempre avançando um pouco, sempre a iniciativa tomada por mim, passo a mão pelo seu corpo inteiro, um corpo quente e ardente de índia parruda. Ela gosta de meu lábio, não para de puxá-lo. Vejo-a como uma diversão, não como o real desejo, preferia outras, mas cá estou com essa, pelo menos me reservaria ainda gratas surpresas. Ela puxa meu braço, abre-se uma porta, abre-se duas, estamos em um banheiro. Ali já é outra história, chego em sua buceta, ele chega em meu pau, toco gentilmente seu tímido peito e ajo como um bárbaro com suas coxas e bunda. Levanto-a pela coxa e a ponho em cima da pia, começo a chupá-la, mas ela (que a toda hora está num misto de prazer audível e arrependimento que se extingue com simples gesto meu) diz: isso não, agora não. Sentamos no chão, quase há uma cópula vestida devido a nossa posição, pergunto se não quer chupar-me, chupa-me. Permanecemos no chão por muito tempo, numa cena bonita até, com muita conversa e paixão. Vamos embora e vejo que já se foi a festa inteira, menos os “casais” Jp e Julia, Felipe e Juliana,  a irmã de renata e a aniversariante. Sento-me com Juliana e Felipe, temos agradável conversa, acho estranho e sedutor como Juliana me fita de um jeito estranho nos olhos. Volto pra casa e durmo.
            Cedo acordo no Domingo, os primeiros sinais da estafa já estão a caminho. Cedo acordo não por vontade própria, mas devido aquilo que conhecemos como família, fazendo aquilo que conhecemos como almoçar. Vou como um morto-vivo, agradeceria se tivesse um óculos escuros. Um almoço típico é o que descorre, sempre bom, sempre uma oportunidade de ver nossos avós queridos. Avós esses que aproveito e peço uma carona até a praia de ipanema, especificamente até o posto 10. Grande Vitinho, grande Juca, grande Stein, Jp e Joaquim. Vou ao mar, sinto o sol na pele, converso, principalmente claro sobre a festa de ontem e sobre o já rotineiro Oliveira alcoolizado, na praia nunca vi vez para assuntos complexos, sempre é sobre algo que ocorreu, com alguém, presente ou conhecido. Talvez esteja sendo radical, mas foda-se. Volto pro jb e mal fico em casa, decido por estúpida aventura juvenil ir de bike até o Antônio ver o jogo vasco e flamengo. Jogo ruim, fumo bom, o ritmo já está caído, final do dia, final do domingo, final da narrativa. Engraçado que na volta fui com Joaquim de bike pela orla, ali gastei minhas últimas energias, a felicidade e excitação exultavam em mim, não sei porque mas gritava, ria, falava em inglês, mexia com as pessoas na rua, parecia bêbado. Chego em casa e morto durmo.

            Acordo fodido, doído, cansado e fraco. O resto do dia só vem a confirmar minha condição de moribundo, durmo, não sou produtivo, mal rio. Chega por fim a doença em mim. O corpo pede descanso por meio da febre, então é isso, que posso fazeire. Descando, durmo, escrevo e cá já estou no outro Domingo, há praticamente sete dias em casa com poucos intervalos, feliz e com medo. Sentindo prazer pela vida e sua constância.

A insatisfação está garantida


A insatisfação está garantida com o óbito do sol. A apatia se instala, e quando raramente se afasta é por conta de acessos de raiva. Não há esperança na abóboda celeste, não há luz, um cinza enegrecido traz o manto da noite mais cedo, e com ele vem a mudez, a falta de perspectiva, o choro contido, a incapacidade de sorrir.
A morte é uma companheira que nos segue de perto nessas horas, parece surgir como uma dama de preto sedutora nos provocando a provar de seus encantos. Como uma solução mágica para escapar desta nossa incompreensível existência. Nos serve como a resposta final, na verdade como a única delas, depois de descobrirmos que somente de perguntas que se calca a vida humana.

A força que as vezes vem para nos segurar do tombo do precipício é o amor, esse sentimento que de tão misterioso se iguala a dama cadavérica em sua onipresença. Um motor que toma seu corpo, sua mente e sua alma por inteiro. Você só a quer, você quer seu calor, sua compreensão, seus risos e olhares, algo que de tão forte e profundo transcende o desejo da morte.