Nesse
momento escrevo sentado na privada. As pontas dos dedos dos meus pés tocam
gentilmente a fria parede de ladrilhos à minha frente. Há tempos ouço um
barulho regular e sincopado vindo lá de fora, algo como uma obra. Vejo o
barulho se aproximar como pequenas e efêmeras bolas pretas, circundadas por um
halo de luz branca. Elas aparecem no ponto cego de minha visão, quando viro a
cabeça no intuito de focá-las elas somem. O barulho continua vindo, cada vez
mais forte. Logo o sinto pertíssimo, em minha orelha, dentro de mim, dentro do
meu corpo, dentro do meu intelecto. No cerne do meu Ser. Sou tomado pelo
barulho, não há mais barulho. O barulho sou eu, e decido dar uma volta.
Lá
de fora ouço o toque gentil dos dedos de um rapaz em sua fria parede de
ladrilhos. Vou me aproximando e inexplicavelmente me vejo como uma aura de
energia na forma de bolas pretas circundadas por brancos raios de luz. Estou
muito rápido e sincopado, logo me sinto pertíssimo dele, em sua orelha, vejo-me
dentro dele. Dentro do seu corpo, dentro do seu intelecto. No cerne do seu Ser.
Tomo o rapaz, não existe mais rapaz. O rapaz sou eu.
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