quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mesa do Sujinho


Uma certa raiva.
Cada vez menos juvenil. Maldizer a imaturidade é covarde, é amargo, cheio de sica, suado e cansado pelo trabalho inútil, horrível e desumanizante. De roupa, de terno e gravata num calor dos caralho bendizendo os bons modos. Não sou eu que sou fraco por não aguentar esse sistema diário da servidão moderna, da fuligem pelo pulmão e pelo corpo, adentro e afora. Da poluição mental, da poluição da alma. Não, não sou eu que sou fraco e frágil, você que é burro, covarde, ignorante e servo. O que sinto no fundo não é raiva, é pena. De todos nós. Da complexificação constante da vida e de suas amarras. De como cada vez mais precisamos de mais e mais apetrechos só para conseguir suprir nossas necessidades básicas. E como também nossas necessidades “básicas” estão cada vez mais complexas.

É triste ter prazer pela explosão de tudo e todos, mas putaquiupariu... Quantos prédios... Quantos carros... Onde está o tempo? Talvez sedimentado sob o asfalto... Junto dele devem estar a calma, a contemplação, o vento fresco de novas ideias e emoções. Lá, mas bem lá no fundo sob o asfalto deve estar o porque disso tudo. Escondido sob camadas de piche, escondido sob o sub-produto de seres mortos ancestrais está o motivo de estarmos vivos. Sedimentado, lacrado pelo progresso. Vai ver que é por isso que tudo anda tão cheio de nada.