segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Invasão



Nesse momento escrevo sentado na privada. As pontas dos dedos dos meus pés tocam gentilmente a fria parede de ladrilhos à minha frente. Há tempos ouço um barulho regular e sincopado vindo lá de fora, algo como uma obra. Vejo o barulho se aproximar como pequenas e efêmeras bolas pretas, circundadas por um halo de luz branca. Elas aparecem no ponto cego de minha visão, quando viro a cabeça no intuito de focá-las elas somem. O barulho continua vindo, cada vez mais forte. Logo o sinto pertíssimo, em minha orelha, dentro de mim, dentro do meu corpo, dentro do meu intelecto. No cerne do meu Ser. Sou tomado pelo barulho, não há mais barulho. O barulho sou eu, e decido dar uma volta.

Lá de fora ouço o toque gentil dos dedos de um rapaz em sua fria parede de ladrilhos. Vou me aproximando e inexplicavelmente me vejo como uma aura de energia na forma de bolas pretas circundadas por brancos raios de luz. Estou muito rápido e sincopado, logo me sinto pertíssimo dele, em sua orelha, vejo-me dentro dele. Dentro do seu corpo, dentro do seu intelecto. No cerne do seu Ser. Tomo o rapaz, não existe mais rapaz. O rapaz sou eu.